O ano de 2013 começou com pressa, aquela pressa de ser tudo o que eu queria e ter mais tempo pra me exercer, porque eu já tenho quase 30 mas eu gosto de Bon Jovi... Comecei a escrever em um projeto new age para quem não gosta de new age. Convidei algumas pessoas pra gravar, mas ninguém quis gravar comigo. Enquanto isto, o Laugi começava uma nova fase e eu estava inserida nela. Muitos direcionamentos depois, acabamos por consolidar tudo isto em um show. Muita coisa aconteceu, muita coisa quase aconteceu, muita coisa simplesmente não aconteceu, mas o show estava lá. E na semana final de ensaios, também teríamos um evento pra cantar, os 45 anos da UniCEUB. Foi mais ou menos assim: segunda, ensaio geral, e um bolinho porque eu estava fazendo 30 anos. Terça, alguns estavam gripando, então foi em casa somente. Na quarta, dia do trabalho, trabalhamos para acertar mais ajustes do show e do evento. Na quinta, o evento. Chegamos lá e preenchemos um crachá com nome, curso e hobby. Boiei, porque música não é mais hobby, e sim, profissão, e hobby, bem, é aquele ex-menudo que canta Michael Row se esborrachou. Eu senti um frio na barriga tão grande no começo, e olha que não tinha nem 1000 pessoas. Mas emocionamos quem estava presente de manhã. À tarde, fomos pra galera, e era muito legal você encarar o público, ver a reação das pessoas, provocar, ninguém poderia ficar alheio. E à noite, a tenda estava formada com 5 mil pessoas querendo assistir as palavras do número 2 da Apple Steve Wozniak (Que é tão "bazinga" quanto a caninha 51) e a gente entrou arrasando, com uma introdução do locutor famoso em Brasília Toninho Pop, chamando a gente de "a banda que está fazendo o maior sucesso..." (Me senti entrando no palco do Domingão do Faustão!). E um dos meus filhos do projeto new age estava lá, devidamente adaptado para o contexto da cena, e fazendo a galera de comunicação social pirar. Para variar só um pouquinho, eu tropecei na Cinthya enquanto estava no palco.
Mas quem descreveu com exatidão nossa sensação de estar lá foi a laugiana Carina Calheiros em sua página no Facebook. Ela disse assim: "Eu já deveria ter ido dormir há algum tempo... A maquiagem escorrendo no canto dos olhos, as pernas cansadas, as pálpebras cerradas! Mas estou a processar algo em mim, algo bastante mágico, sincero e pleno! Hoje subi algumas vezes ao palco pra cantar. Hoje eu também desci do palco pra cantar. E o que mais soa estranho agora é tentar entender os momentos em que tive dúvida se era isso que eu queria pra minha vida. Sabe o que é você estar nu diante de aproximadamente 5 mil pessoas? Eu falo da nudez da alma, aquela que é tão rara nas relações humanas! E quando eu olhei nos olhos do público, eu estava toda ali, inteira, vulnerável e feliz.
Não é fácil lidar com as pequenas frustrações de uma nota desafinada, de um tom menos apurado, porque quero a excelência, junto aos que estão comigo, porque quero dar o meu melhor, porque quero que você receba a energia transformadora do canto de forma cuidadosa. Mas imagino que deva ser ainda mais difícil lidar com a frustração de uma vida inteira a dar satisfação sobre você não ter seguido seu coração nas tuas escolhas!
É preciso coragem pra subir num palco e se entregar... Mas é preciso muito mais coragem pra uma vida cheia de desculpas! Eu não tenho conselho pra dar, mas tenho um testemunho a fazer: Cantar é meu grande prazer, minha subversão, minha ocitocina!" (CALHEIROS, Carina)
Na sexta-feira chegamos ao teatro do SESC para passar a luz e o som e as posições. Não podia muita coisa a ser feita, já que os instrumentos para o pessoal que iria cantar no Clube da Bossa sábado de manhã já estavam previamente montados. Mas mesmo assim fizemos o que conseguimos. O show de sábado já estava quase lotado, e um cara que tinha assistido ao fórum do UniCEUB na quinta tinha trazido a esposa junto para acompanhar. Ela é manicure e tem um site inclusive, o que me fez dobrar a responsabilidade da nail art que eu iria fazer nas unhas (Ah, de longe funcionou, vai!)
No sábado, eu fui de manhã ao workshop do Marconi Araújo. Dentre outras façanhas do mundo da música e do teatro musical, ele fez a Xuxa cantar. O clima estava tão seco e ardido e aquele teatro escuro, eu anotando o que o homem falava, e comecei a ficar com uma dor de cabeça brava. Saí para almoçar naquele sol ardido e forte, e comprei ibuprofeno. Tomei, fiquei mais um pouco no escuro do teatro, fui fazer o ensaio geral. A secura absoluta do ar me impedia até de pensar. Terminou o ensaio geral, tomei mais um ibuprofeno, e se existisse anti-doping pra entrar no palco, eu seria altamente barrada. Agora entendo uma Amy Winehouse. Maquiamos, arrumamos o figurino, passamos som e luz, e o povo começou a entrar. A casa ficou cheia. Entramos no palco, eu ainda meio dopada de ibuprofeno, mas feliz de estar lá em cima de novo. Foram várias trocas de figurino, idas e vindas no palco, e uma das meninas que assistiu a gente até perguntou como fizeram para me encolher. Fácil.
No domingo, chegamos mais cedo para gravarmos um vídeo. Vários takes depois, nos arrumamos para o show, nos aquecemos, passamos algumas coisas que não tinham ficado boas no dia anterior. Neste dia, uma responsabilidade maior, pois muitos ex-laugianos estariam na plateia. Domingo também lotou, e eu nunca vi uma plateia tão ensandecida desde os tempos do thundercats. Todo mundo cheio de energia, tanto do lado da plateia, quanto do lado do palco. A troca foi intensa. Tanto que quando terminou o Sessão Desenho, eu estava em estado de êxtase, que durou horas e horas.
Só a arte para poder ampliar o que é belo e barrar os sentimentos negativos das pessoas. A arte nos torna melhores, mais humanos, mais sensíveis e mais receptíveis ao belo.
Este show foi simplesmente antológico. Moral da história: "Que coisa louca, eu já sabia, enquanto eu me arrumava, algo me dizia: você vai encontrar alguém que vai mudar a sua vida inteira da noite pro dia."
Só a arte para poder ampliar o que é belo e barrar os sentimentos negativos das pessoas. A arte nos torna melhores, mais humanos, mais sensíveis e mais receptíveis ao belo.
Este show foi simplesmente antológico. Moral da história: "Que coisa louca, eu já sabia, enquanto eu me arrumava, algo me dizia: você vai encontrar alguém que vai mudar a sua vida inteira da noite pro dia."