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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

COMO MONTAR E GERIR UMA GIRL BAND

Eu tinha um sonho de participar de uma girl band. De todos os projetos musicais que eu tive vontade de fazer em São Paulo, quase todos eu realizei em Brasília: o musical, o grupo vocal, a banda, só faltou o festival (oremos!). Mas a girl band (este texto está uns 15 anos atrasado) era algo de muito mais trabalho e dedicação do que uma boy band, porque a boy band ficou condensada num tipo próprio que era fácil de fazer e de vender (hoje você pode acrescentar a tudo isto guitarra, baixo, teclado e bateria e pronto! Já escutei dizerem que o Restart é o Polegar do século XXI) Infelizmente, a girl band já não dá mais a mesma liga do que em 1997, todas as meninas agora só querem saber de girls "ex-girl band" fazendo carreira solo e cantoras bagaceira com vozes bagaceira e atitude bagaceira.
Primeiro ponto: Existem dois tipos de girl bands. A girl band igualitária e a girl band com uma band leader. Na girl band igualitária não existe um nome definido, todas as meninas fazem tudo o tempo todo. (Spice Girls, por exemplo). Na girl band com uma band leader, uma só canta todas as músicas e todas as outras fazem backings, caras e bocas mas nunca serão como a vocalista (Pussycat Dolls é um caso, todas as outras meninas foram trocadas e aí, você só sabe o nome da Nicole sopa-de-letrinhas). Pode muitas vezes acontecer de em uma girl band igualitária uma das meninas se destacarem muito e começarem a ser o nome principal da banda (alguém falou em Beyoncé?). Aí você tem que segurar o eguinho e a TPM das meninas se quiser manter a banda. Só, porque se você tentar segurar outra coisa vira assédio e elas trocam de empresário.
Segundo ponto: uma girl band tem que ter obrigatoriamente garotas bonitas (se não bonitas, pelo menos gostosas ou pelo menos ter um estilo fácil de copiar pelas menininhas). Se elas não forem originalmente e estiverem no grupo por cantarem melhor que estas outras bruacas, nada que um bom tratamento não resolva. Afinal, nem a Shakira nasceu Shakira, e nem a Madonna nasceu Madonna.
Terceiro ponto: uma girl band não precisa cantar a capella, ou melhor, abrir vozes. A minha maior decepção foi ver as All Saints cantando Under the Bridge em uníssono. Cai por terra todo aquele esquema de formação vocal, tudo vai depender da vibe da banda. A mais clássica é loira, morena, ruiva, negra e alternativa. Ou lead singer, a da direita e a da esquerda. As All Saints eram todas iguais (tudo bem, tinham duas irmãs lá). Se você tiver dúvidas, faça um reality show. Mesmo as que não entrarem na banda poderão ter alguma carreira legal fora dela, como a Quelinah, a Marjorie Estiano e eu (#quedize).
Quarto ponto: uma girl band tem que saber dançar. E a coreografia tem que ficar no limiar do sensual e do "sessão da tarde". Lembrem-se que o público alvo de uma girl band vai desde as meninas de 10 anos que irão se identificar até os marmanjos que irão bater..., er, palmas para a "saúde" das meninas. E depois que a banda terminar, elas poderão estrelar algum musical.
Quinto ponto: uma girl band tem que caprichar no videoclipe. Se for uma girl band igualitária, vale o mesmo que foi falado das boy bands, cada uma deverá ser mostrada com sua personalidade, seus cabelos, seus atributos e sua voz. Se for uma girl band com band leader, tem que reservar pelo menos um cinco segundos para que as figurantes da banda façam um olhar 43 ou tentem convencer o espectador que "I'm worth it".
Sexto ponto: tem que saber vender a girl band. As primeiras músicas tem que ser bem onomatopaicas para cair na boca da galera (o Aserejé era oficialmente de uma girl band espanhola, Las Ketchup, chamadas assim porque eram filhas de Tomate, um grande instrumentista de lá, ou seja, praticamente as SNZ da Espanha). Pode também ter algum rapinho pra mostrar que elas são descoladas. Depois lança uma balada romântica e triste pra mostrar que o lado sentimental das mulheres. E se por acaso as vendas começarem a despencar, uma delas poderá sair para fazer carreira solo e dar um novo gás na banda.
Sétimo ponto: elas engravidam. Não tenha medo disto. Dá mais publicidade à girl band, principalmente nos meses de resguardo. E cuide para que elas fiquem bem amiguinhas, porque 5 anos depois do fim da banda, elas podem se juntar e fazer um revival.
Empresários, bem-vindos ao maravilhoso mundo das girl bands. Quem sabe em 2020 eu escreva um texto de como montar e gerir uma artista bagaceira ou uma banda colorida.

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