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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

BANJOS E ANTÔNIOS

Depois daquele Natal, cada um voltou para sua vida ou conseguiu mais alguma mudança. Manoel começou a trabalhar no Instituto Luz junto com Tozé, que finalmente se manteve em um emprego por mais de dez meses. Justino ganhou um pedaço de terra de Dario, para seu sustento. Tenório se tornou empresário responsável em trazer artistas equatorianos para o Brasil. Ahmed abriu uma loja de móveis onde trabalha com Cirilo. Dorinha fica em casa cuidando de Natália, que já vai completar um ano. Fabrício cuidava dos programas de banco de dados do Instituto Luz e da loja de Ahmed. Venâncio voltou para Alagoas onde fundou uma ONG. Jorge Maicon estava prestando vestibular para jornalismo. Marcos foi promovido a gerente Junior do banco, Luciano desceu de novo a serra e foi para Bertioga onde junto com Edson, foram tentar montar uma cooperativa de pesca. Josué voltou a jogar no Azerbaijão, Ednardo e Kawã ingressaram em uma comunidade diferente da deles para redescobrir suas vidas.
Manoel resolveu tentar chamar a todos que pertenciam ao Código dos Vinte para um auto de Natal. Quando ligou para o Rio de Janeiro, Vanessa, a namorada de Waguinho atendeu ao telefone falou que ele foi preso em abril por ter seu nome associado ao tráfico, mas que pode ganhar um indulto de Natal por bom comportamento. Mas ele está com medo de ser pego pela milícia ou por gangues rivais. Manoel tinha notícias de quase todo mundo, mas por onde andavam Almeida, Roney & Ronaldo?
Ligou para Goiânia, quem atendeu foi o Roney:
- Oi, Roney, aqui é o Manuel do ex-Código dos Vinte.
- Fala, companheiro, o que te traz aqui no telefone?
- Já garanta sua passagem para Ribeirão. Vamos fazer um auto de Natal aqui no Instituto Luz, e você e seu irmão irão cantar.
- Meu irmão? Eu não tenho mais irmão.
- O Ronaldo morreu?
- Para mim, sim. Aquele canalha saiu com minha mulher na minha cara. Agora está saindo por aí fazendo carreira solo, e o Almeida, em vez de ficar do meu lado, tá de motorista da turnê dele.
- Nossa, isso é grave, acabou com meu sonho de todos reunidos de novo.
A história aconteceu assim: Roney é casado com Liliane. Acontece que Roney & Ronaldo são gêmeos idênticos, e Liliane sabia até então diferenciá-los. Um dia, ela precisou usar óculos, e iria para o oftalmologista. Como sempre faz, pega na mão do marido que a acompanha. Mas ela já ia pegando na mão de Ronaldo, que quando ia falar que não era Roney, foi surpreendido pelo irmão raivoso, que num acesso de fúria, saiu de casa. Roney ficou triste e nunca mais quis saber de cantar. Ronaldo, ao contrário, foi até o Acre para começar a sua carreira solo.
Roney trabalhava como funcionário da prefeitura. Lá conheceu Pedro Henrique, um jovem de 22 anos que fazia faculdade de música. Ele sempre trazia ao serviço um banjo, que tocava quando havia alguma folga. Eles sempre conversavam. Quando Pedro Henrique começava a falar sobre música com Roney, o olho deste brilhava, mas com certa nostalgia.
- Veja isto, Roney. Um CD que foi remasterizado, Pena Branca e Xavantinho. Isto não estava nas lojas há um tempão.
- Olha, PH – é como ele era conhecido – se eu te contar que tenho um desses em casa, cassetão dos bão.
- Jura? Traz para eu ver.
- Só preciso saber se... nada, deixa pra lá. – Roney ficou triste, porque provavelmente teu irmão poderia estar com ele. Ronaldo assina como Ronaldo Costa e já está em Rondônia. Seu motorista que faz as viagens de sua equipe é ninguém menos que Almeida, que agora assina como Antônio Almeida. Para poder coincidir da vinda deles com o auto de Natal, eles passarão por Rondônia, Mato Grosso, Goiás, um trecho de Minas até chegar a Bady Bassit, onde fica o Instituto.
Alguns dias se passam e PH descobre da dupla Roney & Ronaldo.
- Roney... você fazia dupla com Ronaldo? Ele é seu irmão?
Nessa hora, Roney engole seco.
- Desculpa, uai, não queria te constranger.
- Sabe, PH, que apesar da gente ter brigado, e de ele ter se engraçado com minha mulher, eu sinto falta da gente cantando. Depois que ele saiu de Goiânia, nunca mais tive vontade de cantar, mas quero te agradecer, porque estou redescobrindo a música sertaneja.
- Meu pai tocou banjo com vocês quando vocês eram adolescentes. Ele lembra de vocês com muito carinho.
Naquele mesmo dia, Manoel estava fechando sua sala quando recebe uma ligação. Era Vanessa. Ela estava desesperada
- Manoel, pegaram o Waguinho no meio de uma rebelião no Bangu.
- E como ele está?
Vanessa não consegue nem falar ao telefone. Manoel percebeu que o pior aconteceu. E foi avisar o código dos vinte.
Almeida e sua trupe estavam em Goiás, depois de um show bem sucedido em Rondonópolis. Estavam descansando em um restaurante de um posto de combustível quando recebe uma ligação. Era Manoel.
- Fala, Manuca!
- Almeida, precisaremos ir até o Rio de Janeiro este final de semana. Aconteceu uma tragédia. Mataram o Waguinho.
- Como? ... Ok, eu aviso o Ronaldo e seguiremos.
Roney estava com a mulher assistindo o jornal.
- Uma rebelião na penitenciária Bangu II deixa 5 policiais reféns e mata o comandante da PM Wagner Nascimento e o presidiário Antônio Juarez dos Santos, o Waguinho. Roney pega sua mulher e diz:
- Lili, precisamos ir até o Rio de Janeiro. Nosso amigo morreu nesta rebelião.
- O Comandante Wagner?
- Não, o Waguinho.
- Ora, mas vocês viraram amigos de bandidos?
- Ele não é bandido. A história é longa. Vou te contando pelo caminho.
E seguiram em direção ao Rio de Janeiro. No caminho, Liliane dorme e Roney pega seu MP3 para ouvir rádio. De repente ele escuta uma canção sobre perdão e reconciliação e começa a se emocionar.
(a canção ficou em Brasília. No próximo post, eu publico aqui). O locutor avisa:
- Bão demais da conta! Vocês acabaram de ouvir Ageu & Joel, dupla daqui de Itumbiara, cantando “Meu irmão, quero voltar”, sucesso de autoria de Ronaldo Costa, grande irmão da nossa terra, fazendo sucesso no norte do país. E agora fiquem com o sucesso de Nilson & Nelson, “Ê paixão”...
Roney desligou o MP3. Ronaldo tinha feito a música para ele, mas como era orgulhoso não quis cantar a princípio.
No enterro de Waguinho, estava parte dos participantes do Código dos Vinte. Josué estava voltando em viagem e não soube a tempo do ocorrido. Foi difícil para ele pedir ao técnico liberação, pois é meio de temporada. Cirilo, Dorinha e Natália não puderam vir, mas Ahmed veio em seu lugar. O lençol do Botafogo usado no presépio humano montado sem querer querendo naquele fatídico Natal estava cobrindo o caixão. De repente, chega Ronaldo e Almeida, e depois, Roney. Manoel fica mudo, pois era um dos poucos que sabia da separação.
- Ronaldo, eu ouvi no rádio...
- Roney, eu queria eu mesmo ter gravado aquele pedido de desculpas, mas chegava sempre na hora, eu não conseguia cantar. Chamei o Ageu e o Joel, sobrinhos do Tião do Banjo...
- Primos do PH... por que ele não falou...
- PH?
- Pedro Henrique, ele trabalha comigo na repartição. Ele é filho do Tião do Banjo.
- Nossa, Roney, a gente não poderia abandonar 30 anos de história por causa de um pequeno tropeço.
Os irmãos se abraçaram. No dia seguinte, Manoel estava triste.
- Meu sonho era reunir todos do Código dos Vinte para este auto de Natal. Mas a notícia do Waguinho me deixou com um aperto de continuar.
- Quer dizer que você está desistindo de se encontrarem no Instituto? – pergunta Tozé.
- Sim, não tenho cabeça para isso.
- Manuca, olha pra mim. Eu nunca fui uma pessoa exemplar, nem tenho cacique para te aconselhar. Eu não sabia que o Roney e o Ronaldo tinham brigado, por exemplo. Bastou ter esta ocasião para eles se encontrarem de novo.
- E...?
- Vamos sim ter o auto de Natal. Waguinho iria ficar chateado se vocês não fizessem.
- Sabe, Tozé, você tem sim razão.
- E tem mais: como agora estamos cada um seguindo seu caminho, é capaz até que venham mais gente, da cooperativa do Matsuda e do Luciano, da ONG do Venâncio, do Ed e do Kawã. Vamos voltar para o Instituto!
Na semana seguinte, estavam todos os dezenove do Código dos Vinte, mais Dorinha e Natália, Liliane, que estava grávida, PH e seu pai, o Tião do Banjo. Manoel estava mais feliz, porque começou a namorar Ana Cláudia, do Instituto. Roney & Ronaldo iriam preparar uma apresentação.
- Nossa, Ronaldo, estou com friozinho na barriga.
- Sabe que também estou?
- Mas você está acostumado...
- Sozinho? Tem graça não...
E eles chamaram o PH e o Tião do Banjo para tocarem com eles “Noite Feliz”. Dorinha fez um bolo para comemorar o aniversário de Natália. E eles entenderam o verdadeiro espírito do Natal.

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