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domingo, 7 de dezembro de 2008

BEBER, CAIR, LEVANTAR - UMA JORNADA PELO MEU INTERIOR

Gabriele estava planejando suas férias. Queria levar a irmã para conhecer a Disney, e esticar em Nova Iorque. A alta do dólar acabou com seus sonhos. E para piorar, sua irmã ficou de REC na faculdade. Então, decidiu escolher viajar pelo interior do estado. Ligou para Thaís, sua amiga de colégio que morava em Ribeirão Preto e arranjou sua vinda. Em três semanas, Gábi, como era conhecida, iria se encontrar com Thaís na rodoviária. Apesar de viajar somente 336km, esta viagem iria mudar sua vida.
Em pleno mês de julho, Gabriele e Thaís se encontraram na rodoviária de Ribeirão Preto. Gábi se hospedou na casa de Thaís onde passaria 05 noites. Começaram a passear pelos pontos principais da cidade, como o bosque municipal Fábio Barreto, o Palácio Rio Branco e o Theatro Pedro II. À noite, Thais quis sair com a amiga:
- Gábi, quero te levar ao novo point de Ribeirão. É uma cervejaria chamada Adegas.
- Adegas? Serve chopp de vinho?
- Não, Gabi. Adegas porque o antigo proprietário se chama Hernán Adegas, um empresário espanhol que perdeu tudo porque ele bebia.
- Só porque ele bebia um choppinho de vez em quando?
- O problema é que ele não bebia só um choppinho. Hernán chegava sempre bêbado. Resultado: perdeu a sociedade.
Chegaram à cervejaria. Foram de ônibus, porque iriam beber. Pediram um chopp cada:
- Às minhas férias!
- À sua viagem!
- Ao Hernán Adegas!
- Ao garçom!
- Ao... nós viemos aqui para beber ou para brindar?
As duas riram muito. Lembraram dos velhos tempos, contavam as novidades e faziam planos para o futuro. Gabriele foi ao toilete. Encontrou no caminho um senhor meio gordo, cabelo grisalho despenteado, sujo, camisa aberta. Ele tentou dizer-lhe algo e Gabriele simplesmente se afastou. Voltando à mesa, comenta com Thaís:
- Thaís, é normal encontrar tiozões breacos?
- Não, como ele era? - Gábi descreveu. - Ele tentou te dizer algo?
- Sim, mas naquele idioma de bêbado: "Axaxaxaxa..."
- Não, este é Hernan Adegas. Ele queria dizer algo. Vamos falar com ele.
- Não tem perigo nao?
- Não, veja - e se aproximou de Hernan. Ele apontou para Gábi e disse:
- Minha xovem, bocê deberá estar em Barretos, e bai falar com Bruna, filha do meu antigo sócio. Ela te aguarda com una surpresa.
Gabriele achou estranho, mas iria somente na sexta a noite. No domingo, elas foram ao parque Prefeito Luiz Roberto Jábali para andar. Durante a semana, Thaís trabalhava e Gabriele ia conhecer a vizinhança. Na segunda foi para Sertãozinho. Na terça, foi para Monte Alto. Na quarta foi para Brodowski. Na quinta, foi para Santa Rita do Passa Quatro. Na sexta, foi pra Franca e de lá, seguiu para Barretos, que estava se preparando para a festa de peão. Procurou por Bruna e a encontrou:
- Você que é a Gabriele? Meu pai ouviu muito de você pelo Hernán.
Gabriele se assustou.
- Não precisa ficar com medo - continuou Bruna - tudo isto é experiência. E dê graças a Deus que você arranjou um quarto. Se fosse uma semana depois, você teria que dormir em Colômbia, aqui do lado.
Gabriele pensou: "Definitivamente, a Colômbia é aqui mesmo!" Ela se hospedou em um albergue com mais sete pessoas, entre elas a própria Bruna e Alan, um peão que estava se concentrando para enfrentar o touro Bandido. Gabriele odiava rodeio, mas teve que conviver.
No sábado, saíram todos para um bar temático. Em frente, tinha um parque de diversões bem rústico. Alan foi direto ao touro mecânico, pediu para colocar o nível mais forte e montou. Se segurou durante oito segundos cravados e recebeu as palmas da turma. Olhou para Gabriele e disse:
- Agora é sua vez.
- Eu?
- É, vai Gábi! - e começaram a gritar "Gábi! Gábi! Gábi!"
- Ok, eu vou.
Gabriele montou, mas o dono do brinquedo tinha esquecido de regular o nível de dificuldade do brinquedo. Na hora em que o touro começou a se mexer, ela caiu desacordada para fora do colchão.
***************
- Hã... Bruna... Alan... Thaís? Ei, onde estou?
- Na minha casa - disse Bruna - A gente ficou preocupada que você caiu feio do touro e te trouxemos. O Alan estuda medicina em Ribeirão. Ele te deu os primeiros socorros e te levou para a cama.
- Ah... o quê?
- Calma, eu explico: com a queda, você deve ter se assustado e desmaiou. A gente te acordou e você virou e dormiu. Mas você tinha tomado umas jurupingas antes de irmos ao parque.
- Gábi, não estou te reconhecendo - disse Thaís - não era você que tinha no carro o adesivo de "Distância do..."
- Sshhhhhh!
- A gente vai te levar ao médico. Só não fomos aquela hora para não misturar algum remédio aos seus gorós e você piorar. O Alan está achando que você luxou o cotovelo.
Foram ao hospital e enfaixaram o braço dela. Ela ainda não entende a demora. Alan tenta explicar:
- Se quiser saber o motivo, terá que procurar uma amiga minha.
- Ilhabela? Sinceramente, esse papo de encontrar fulano, encontrar beltrano já me encheu. Minhas férias simplesmente acabaram. Eu ia para Boiçucanga depois. Como vou para a praia com este braço?
- Boiçucanga? Que ótimo, minha amiga mora em Ilhabela. Ela se chama Kalanda Anda e tem uma pousada escondida na praia dos Castelhanos.
Thaís leva a amiga para a rodoviária. Gabriele pergunta.
- Estou desconfiada. Está tudo muito estranho. Não era mais fácil ir ao médico primeiro? Não, ele me levou para a casa da Bruna.
- Será que você não tomou umas a mais e eles não queriam que aplicassem glicose em vez de te enfaixarem?
- Eu tô achando pior. Mas se o Alan tiver se aproveitado de mim naquelas situações, e eu tiver esperando filho dele, eu venho pra Barretos e coloco o bebê numa cesta na porta da casa dele dizendo "toma, que o filho é teu"
Thaís ri, mas imagina que seja algo mais sério. Por que Ilhabela?
Gabriele começou sua viagem para Ilhabela. Pegou um ônibus até São Paulo e de lá outro até São Sebastião. Tomou a balsa e chegou. Para chegar até a pousada, teve que ir de 4x4. Kalanda é dona da pousada junto com o seu pai, o guru Mahavrishi. Gabriele chega na pousada.
- Não repara se eu estiver olhando tudo torto, é que me aplicaram um boa noite cinderela em Barretos e falaram para eu falar com você.
- Gabriele, estava esperando por você. Meu pai vai lhe aplicar a técnica Mahavrishi de meditação neurotranscontemplativa, você irá se lembrar de tudo o que aconteceu e até seu braço irá voltar ao lugar.
Gabriele foi dormir. De manhã, foi até a praia. Depois de caminhar pela orla, avistou um velho magro, barbudo e de feições indianas. Era Mahavrishi, e ele iria começar a fazer a meditação para seus hóspedes e quem mais se interessasse.
Ela se sentou na posição indicada. Fechou os olhos. Imaginou um acampado com uma cachoeira. Ela até podia ouvir o barulho das águas. Dava até para senti-las salpicando seu corpo. Dá até para ouvir o zunido de... borrachudos!!! Gabriele que era alérgica e não tinha passado repelente naquele momento, se levantou e saiu correndo até o mar, esquecendo até as faixas e a tipóia. Não se importou que estava 17 graus e a água gelada. Neste momento, se lembrou de que no dia da queda, ela não quis ir até o hospital. Alan tinha até insistido, mas ela achou melhor descansar em casa. Ele a deixou deitada na cama de Bruna, apagou a luz, saiu do quarto e fechou a porta. Ela nem sentiu o braço doendo, somente na hora, mas enfaixaram somente por precaução. Lembrou-se até de Kalanda, na verdade Beatriz, que estudou com as duas, mas que mudou de nome depois que se casou com o guru. Que apesar do susto da queda e de ter se esquecido do acontecido, ela se sentiu feliz. Apesar de frequentar lugares que já conhecia, e outros que ela acharia monótono, foi uma viagem diferente, pois ela teve sensações diferentes. E ela vai sempre viajar durante as férias e falar com Thaís primeiro, porque nada mais gostoso do que você viajar e ter o que contar depois, não importa aonde.

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