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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

E TUDO POR CAUSA DO REI CAPITÃO

Para quem vem acompanhando a minha saga de volta aos palcos, na semana passada o grupo Laugi foi convidado para ser pit singer (ou coro fixo) de um musical do aclamado diretor Hugo Rodas, chamado "Rei David". Tudo começou quando recebemos as músicas para ensaiar, eu coloquei no celular e ele sumiu. Que beleza! Mas depois consegui ouvir as músicas e escutar bonitinho durante as férias. Os ensaios de coro começaram na semana anterior, numa segunda-feira extremamente chuvosa, que me fez provar que no fim do mundo, vou me salvar porque dirijo igual a protagonista de filme-catástrofe. Naquele dia conhecemos um pouco da peça que só tínhamos ideia pelo áudio do ensaio. Os ensaios nos foram familiarizando com o tema. Mas a semana decisiva foi do dia 26 em diante, quando passamos as noites inteiras de segunda a domingo dentro da UnB para ensaiar e apresentar. A nossa função era ficar sentado escondido do lado esquerdo do palco (direito para quem assiste) numa plataforma de madeira (nada para quem subia e descia aquela plataforma do RENT umas 45 vezes), cantando o nosso melhor. A bunda doía nos primeiros dias, e aí era engraçado porque às vezes os atores de tanto trabalho corporal queriam estar sentados, e a gente queria estar se mexendo no palco. A cada marcação, a cada repetição, a cada erro, a cada acerto, a cada "bronca" do diretor, íamos aprendendo e absorvendo. Alguns atores nos chamavam a atenção pela sua presença, tensão e tônus muscular. E o que me chamou a atenção foi a atriz e cantora Aida Kellen, solista de duas músicas, e cantava mais do que muita menina de musicais à Broadway de Brasília. Mas para mim foi uma experiência interessante: não houve o frisson de entrar em cena justamente por eu estar escondida. Outra coisa foi que tínhamos pastinhas para colocar as músicas e usaríamos pequenas lanternas para nos acompanhar. No primeiro dia eu usei a do celular e ele me caiu na segunda sessão, aí desisti. Mas aos poucos a gente foi decorando quase todas as músicas, isso porque decoramos praticamente a peça inteira, lembrando sempre das frases mais marcantes durante o dia.
O bom de estar sentado escondido numa posição estratégica atrás do palco é que a gente via as cenas de um ponto onde ninguém teria ideia. As entradas e saídas de palco, a mão do regente da Brasília Big Band Ademir Júnior, alguns "satz" de alguns atores que da plateia ninguém jamais imaginaria ver, e alguns segredos de peça que não serão contados, mas que a gente via a reação da plateia e achava muito interessante. Todas as sessões eram praticamente cheias, e foi muito gratificante ver meus colegas de trabalho (em todos os sentidos) nos assistindo, ou melhor, assistindo a peça e nos ouvindo. A hora de concentração do palco muitas vezes contava com o aquecimento da orquestra, que tocava de Cartola até Araketu, passando por É o Tchan e Dire Straits. E no último dia, o elenco, o grupo e o regente da orquestra se uniram em roda para transmitir aquela energia e gritar: "Vocês são meus, vocês são os homens de David!". No domingo, eu estava sem voz, fiz um aquecimento lascado e ainda consegui dar 40% do que eu geralmente dou. Mas foram dez sessões intensas, corridas, cantadas, improvisadas, com toda a atenção e energia necessária para o palco. E entre uma sessão e outra no domingo, apresentamos Kid Cavaquinho para o elenco de atores que aplaudiu forte a gente. É, estamos  todos juntos neste barco, querendo levar arte às pessoas.
Há três anos, eu, Maria Barrillari, abandonei uma porta que se fechou de repente e resolvi procurar cantar e atuar desesperadamente por Brasília. Hoje, as portas se abrem e eu posso dizer que sou feliz no que eu faço.

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