Às vezes acho que o Rio de Janeiro não existe, é Matrix, fruto da nossa imaginação.
Porque na minha sexta visita a Cidade Maravilhosa, tenho notado como a atmosfera da cidade permite que aconteçam coisas surreais que jamais aconteceriam em outro lugar do mundo. Ou até aconteceriam, mas sem a mesma mágica e leveza que acontece no Rio.
Por já ter feito diversas vezes o pacote turistão (Pão de Açúcar + Cristo Redentor), fiquei focando nos pequenos prazeres do dia-a-dia, algo que num pacote turistão você não tem acesso.
São fatos surreais, como a praia de Ipanema ensolarada no final da tarde quando todas as pessoas decidem jogar vôlei ao mesmo tempo. Você olha de longe e só vê as bolas saltando de um lado e do outro.
O pôr-do-sol nas pedras do Arpoador, quando as pessoas sentam nas pedras vendo o sol baixando atrás da pedra da Gávea (ou perto dela) mudando de cor até sumir no horizonte. O povo aplaude, e a natureza agradece.
Uma alemã que fala português melhor do que eu falo alemão vem frequentemente ao Brasil e carrega no seu Ipod músicas de Victor e Léo e até o melô da Jaboticaba.
A noite nos Arcos da Lapa é democrática, não precisa entrar nos inúmeros bares e boates e pagar altas consumações para se divertir. O som se espalha no bairro e a festa acontece do lado de fora. Não se surpreenda se vir mais gente andando pelas ruas da Lapa com caipirinhas na mão do que dentro dos prédios antigos e conservados da Lapa.
Só no Rio que no dia do aniversário de Carlos Drummond de Andrade, um grupo de teatro resolve declamar "E agora, José?" do lado da estátua do poeta. Estátua que num dia de chuva escutava pacientemente um solitário mendigo que estava lá sentado. No mesmo dia de chuva em que quatrocentas pessoas da Tupperware francesa andavam de bicicleta no calçadão da praia de Copacabana. No mesmo calçadão que no outro dia, uma menininha dançava break e roubava a cena dos dois marmanjos que por mais que dançavam, não conseguiam superá-la.
À noite na praia de Ipanema você poderia até avistar dois luaus diferentes acontecendo a menos de metros de distância, um de um grupo de teatro desafinando o Gonzaguinha, e outro de um grupo evangélico, convivendo de maneira harmoniosa. Ou até mesmo enxergar de longe uma pessoa fazendo tai chi chuan, ou dança ou kati de kung fu sobre as pedras do Arpoador. Entre as quais um mendigo dormia escondido tentando sonhar por entre amassos vorazes de casaisinhos que frequentavam o local.
É você ouvir pagodim numa van da Gávea e achar até engraçado, por se lembrar dos tempos da van de Itaquera.
Apesar de ser dia de eleições, a cidade não transpirava dever, e sim prazer. Niterói com a sua vista privilegiada e as famosas barcas que serão melhoradas com o King Size das terras do Rio de Janeiro.
É você ver moças se beijando com intensidade sem se preocupar com quem vê ou quem deixou de ver.
É tocar violão no calçadão com um grupo de canadenses que falavam um pouquinho de português.
É andar na rua, avenida Atlântica que fica fechada no feriado para caminhadas, patinadas.
E será que foi apenas um sonho mesmo? Quando a comissária disse "Bem-vindos à Brasília", eu senti como se o despertador tivesse tocado, me acordando e trazendo de volta à realidade. Mas com uma sensação de que viajei no meu sonho ou sonhei na minha viagem.
Um comentário:
Legal garota!!!Parabéns!!!Ótimo texto, imaginei-me na sua viagem,
especialmente, na parte em que vc descreve o momento de descontração
tocando violão com os turistas.
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