Esses dias andei fazendo uma crônica sobre o Réveillon. Acho melhor publicar agora até porque é dia 28, e não 29, que encerro as atividades de 2003 no blog.
Pra quem achar que está grande e "vou ler depois", vou colocar links para chamar a atenção.
TRÊS, DOIS, UM
O Reveillon é a festa mais comemorada do ano, até porque é a esperança de algo novo e que seus problemas ficarão no passado. Mas também é a festa com os maiores micos e situações engraçadas.
A TV, bem como as revistas de celebridades, mostram um Reveillon pomposo, digno de socialite global, que manda o mordomo comprar uma ceia inteira com caviar e champanhe de safra rara; as convidadas em elegantésimos vestidos brancos Glória Coelho, e os homens de Calvin Klein. Quando chega a meia-noite, a hostess inicia a contagem regressiva, e depois todos vão para a sacada apreciar os fogos de Copacabana de longe, sem molhar seus lindos pés calçados na Fernando Pires nas águas da Guanabara. Chique? Não é pro seu bico.
Ainda tem os reveillons organizados por boates, hotéis e restaurantes, com menos glamour mas com mais organização. São aquelas festas que antes tem a ceia bastante farta, contagem regressiva, e quando vira o ano, tem baile de carnaval regado a frutas e batidas, e vai assim até o primeiro amanhecer do ano.
Mas o melhor e o mais comum é o Reveillon na praia. Praia paulista, porque uma vez passei o Reveillon em Camboriú e é outro esquema. Reveillon na Praia Grande ou onde as pessoas têm casa na praia, onde a gente prepara a nossa ceiazinha com aquele pernil, maionese, cuscuz e a lentilha pra guardar na carteira. Tudo isso é deixado como está às 23h para comerem de volta quando virar o ano, mas acaba dando problemas. Só um exemplo: no Reveillon de 1997, antes da gente sair de casa, ainda em 1996, o cuscuz estava bom. Quando virou o ano e a gente voltou, estava estragado.
Às onze da noite todos saem a praia com a roupinha branca que ganharam no Natal. Alguns aproveitam e levam velas e rosas brancas pra Iemanjá; outros levam fogos; outros, champanhe espumante de R$2,99 (geralmente são melhores e mais doces que as Chandons) tiradas da geladeira e carregadas debaixo do braço. Chegam lá na praia, onde tem os fogos colocados pela prefeitura e arrumam seu cantinho para beber champanhe, acender as velas e esperar a entrada do ano novo. Os que levam fogos começam a soltar. Sempre tem algum mais torto que acaba estourando a três metros de distância justamente daquela pessoa que odeia fogos. Mas até aí, é festa.
Mas a melhor hora é a da contagem regressiva. Todos os relógios estão marcando horas diferentes, dá pra calcular uma margem de erro de 2 minutos. Então às 23:58, um adiantadinho começa: "10, 9, 8..." A partir daí, é um festival de números e contagens, cada um com uma diferente, uns ainda no ano velho, outros já no ano novo, e quando começa a estourar a bateria de fogos que a prefeitura colocou, os mais atrasados olham no relógio, esquecem a contagem e falam "Feliz ano novo" assim mesmo.
Depois disso, todo mundo vai pro mar pular 7 ondinhas e jogar as rosas e outras oferendas pra Iemanjá. E vocês acham que a rainha do mar gosta dessa sujeira? Em dois Reveillons ela me puniu por eu ter sujado o mar. Um foi em 1995, quando ela levou minha tornozeleira, e outro em 1999 quando uma onda mais forte me molhou o joelho (e eu estava de calça corsário). Terminado o ritual, vamos beber a sidra espumante! Nessa hora, já passou uma hora de ter tirado da geladeira e alguns minutos em algum suvaco quente. Então a sidra está uma delícia e sobe tão rápido quanto os fogos da prefeitura. Aí, já era! Todo mundo bêbado, e como segundo os antigos, tudo que fazem na virada vão fazer o ano inteiro, eles vão fazer as burradas de bêbado o ano inteiro. E as velas? Ficam derretidas na areia. Alguns depois dormem na praia mesmo, junto com o que sobrou dos fogos da prefeitura.
E dia primeiro de ano, de manhã, a praia é uma sobra da festa: rosas brancas jogadas na orla, garrafas de champanhe, copinhos, bêbados, restos de velas, aquele plástico com cera (muitos queimam velas sem tirar o plástico) e os garis limpando e pensando que ano que vem será a mesma coisa.
Maria Fernanda, 20, é vocalista e guitarrista da Guarda do Conde, e já passou onze Reveillons em praia, sendo 6 desses na Praia Grande
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